Gramática, por quê? Prá quê?
Por: Pilar F.
08 de Fevereiro de 2019

Gramática, por quê? Prá quê?

De como anotações úteis se tornaram um martírio na vida escolar

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Todo professor de Português que se preze já teve que ouvir, mais de uma vez, a pergunta "afinal, prá quê eu preciso aprender gramática?" E, claro, todo aluno já fez essa pergunta.

 

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O "segredinho" que a gente só descobre depois que entra num curso de Letras é que o significado original do termo "gramática" não tem nada a ver com aquele catálogo de regras e exceções que nos é imposto ao longo da vida escolar e nos cursinhos preparatórios para a carreira pública. Parece que o sujeito tem que resistir a anos de indigestão gramatical, ser masoquista o suficiente para escolher o curso de Letras e, só então, receber o alívio por tanto sofrimento.

No curso de Letras, a gente, finalmente, aprende que a gramática tal como ela é apresentada nas livrarias - ou seja, aquela espécie de catálogo de "certo e errado" da Língua Portuguesa - remonta ao século XVI, quando surgiu a primeira gramática do idioma de Camões. Escrita por um padre chamado Fernão de Oliveira, foi publicada em Lisboa, em 1536, sob o título “Grammatica da lingoagem portuguesa”. Mas essa gramática não tinha a finalidade de dizer o que era certo e errado no uso da língua. A ideia era registrar a estrutura linguística do Português. Com qual finalidade? A unificação da sociedade lusófona.

Este é o sentido original do termo gramática: a estrutura de uma língua. Ou seja: a sintaxe, morfologia, a semântica e a fonologia de uma língua; engrenagens essenciais para fazer a máquina enunciativa funcionar. Para se entender melhor, vamos recorrer a uma analogia: a gramática seria como a fundação, as vigas e os pilares de uma construção; ao passo que as palavras, o léxico, seriam os tijolos, o revestimento. Por isso, os linguistas atuais não deram a menor importância ao Novo Acordo Ortográfico. Esse acordo modifica apenas o verniz da Língua Portuguesa. Não há nenhuma modificação estrutural.

Imagine, no século XVI, um comerciante francês querendo aprender Português para se comunicar com seus novos clientes. O livro de gramática poderia ajudá-lo a aprender o novo idioma com mais facilidade. 

Falando nos franceses, a primeira gramática da Língua Portuguesa copiou o modelo da gramática francesa, que já existia desde o século XV. Os franceses, aliás, sempre foram conhecidos pela preservação do patrimônio cultural nacional. Com a língua, não é diferente. Desde o século XV, as questões concernentes ao idioma de Astérix são regidas pela Royalle Académie Française. Uma instituição bastante forte e que insipirou um grupo de escritores daqui, cujo maior nome é Machado de Assis, a criar a Academia Brasileira de Letras, em 1897. Mas como, no Brasil, nada que é trazido de fora opera conforme o modelo original, deu no que deu. Pobres escritores... representados por "notáveis" políticos bebedores de chá.

Voltemos à "vaca fria": a gramática francesa, por sua vez, originou-se da gramática latina. Mas o fato é que nem a primeira gramática portuguesa, nem a francesa e nem a latina tinham o intuito de prescrever o que era certo ou errado no uso da língua.

A definição de certo ou errado num idioma é uma imposição puramente político-econômica e segue padrões de dominação de quem está no poder. No império romano, a elite valorizava o latim usado pelos escritores. Mas foi o latim vulgar, cheio de "peculiaridades" (que ainda podem ser lidas nos banheiros públicos de Pompeia), que deu origem às línguas ocidentais modernas, entre elas, o nosso Português.

Então, quando você se questionar "por que eu tenho que estudar gramática?", primeiro, reflita: que gramática é essa que estou estudando? A resposta vai depender disso. A finalidade do estudo da gramática compreende tanto o entendimento das diversas variantes da língua quanto o domínio de uma variante padrão, imposta socialmente, ( e quem domina esse padrão se sai melhor financeiramente). Em termos evolutivos, o estudo da gramática promove uma maior unificação dos falantes do Português. Isso não impede, claro, que a língua mude. Mas isso já é assunto para um próximo post. Até lá.

 

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em 12 de fevereiro de 2019

Adorei!

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