Henri Lefebvre e o fim da História
Por: Darcio A.
13 de Julho de 2021

Henri Lefebvre e o fim da História

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Publicado no iníco dos anos 70, o livro 'O fim da história' do pensador francês Henri Lefebvre trouxe uma série de novas considerações sobre a filosofia da História e uma renovação ao pensamento marxiano tradicional, capturado pelos partidos comunistas e transformado em ortodoxia. O texto aponta para três dimensões principais: uma dimensão subjetiva, outra dimensão que poderíamos classificar como crítica - do sistema produtor de mercadorias, capitalismo - e, finalmente, uma terceira, utópica que sinaliza um projeto de transformação. Não necessariamente um projeto acabado ou constitídos de bases sólidas, como propunha o marxismo tradicional, mas ancorado em apontamentos consistentes para aquilo que Lefebvre classificou como uma possível saída da História. 

No coração do projeto lefebvriano encontra-se a crítica radical à modernidade e ao pensamento iluminista. Lefevbre põe em evidência certas categorias neglicenciadas pela forma social que foi consolidada pela Revolução Francesa, aquilo que comumente chamamos de sociedade burguesa. Ela já vinha sendo gestada há alguns séculos, pelo menos desde o final da idade média europeia, mas alimentada por contadições, a sociedade burguesa precisou de movimentos explosivos e sanguinários - revoluções burguesas - em vários países europeus para vir à tona tornar-se hegemônica até nossos dias e daí ser exportada à ferro e à fogo para outros continentes, povos e etnias. 

Se a história do capitalismo e da sociedade burguesa já nos são um tanto familiares, ainda que haja um grande disputa de narrativas em torno dos seus primórdios e até mesmo da validade da sua ética e da sua moral, Lefebvre vai tentar mostrar que a mesma racionalidade que produziu espetaculares avanços tecnológicos e científicos relegou a um plano menor, chegando a desconsiderar/desprezar/ocultar/vilipendiar/insultar/exilar dimensões importantes da vida para impor suas formas de dominação. Essas dimensões relegadas pela sociedade burguesa a um plano marginal seriam o corpo, a festa, o encontro, a alegria, a loucura, o prazer, a religiosidade leiga, as brincadeiras, etc. Categorias que só aparecem na sociedade burguesa quando reforçam a busca pelo lucro. São os chamados lazeres espetaculares e pontuais, que aliviam o stress e o peso de uma sociedade massificada e sem sentido, mas que não contam com a participação dos indivíduos na elaboração desses momentos de fuga. São lazeres prontos e oferecidos de fora para dentro, basta escolher o que já fora escolhido para você ... e pior, reiterando, só poderão existir se produzirem mais-valor, lucro. Os shoppings centers dos nossos dias são uma espécie de templos de consagração aos lazeres alienados (e alienantes). Ali já está tudo previamente escolhido para você (e as pessoas adoram!).

Voltando ao fim da história lefevbriano, dentro do espaço que nos cabe e numa leitura apressada o autor aponta para o resgate dessas dimensões perdidas visando à superação da sociedade burguesa e todo seu espectro de opressões. Para tanto, Lefebvre faz um releitura do pensamento de Friedrich Nietzsche e o coloca em relação com o pensamento de Marx-Hegel. Lefebvre classifica o pensamento hegeliano-marxista como 'pensamento historiador', ou seja, ambos os autores depositaram suas energias para deslindar os mecanismos do movimento da história. Hegel de forma positiva, espera da história a consagração da sociedade burguesa através do Estado (despotismo esclarecido), já para Marx a superação dessa sociedade se dará pela luta entre opostos (burguesia x proletariado, num primeiro momento). Niezstche, pelo contrário, não alimentava nenhuma esperança no caminhar da história, nem nutria qualquer simpatia pela sociedade burguesa muito menos pela luta contra ela. O filósofo alemão propunha simplesmente vivê-la, intensamente, resgatando 'os direitos do projeto dionisíaco', do prazer, da festa, do corpo, da arte, etc. colocados em primeiro plano. Lefebvre encontrou no pensamento de Nietzsche não apenas a fruição da vida, mas a chave para a superação da sociedade burguesa, para ele resgatar esses elementos, amaldiçoados pela racionalidade do lucro, poderia constituir um caminho de 'saída' da sociedade burguesa, mas e, diferentemente de Marx, sem esperar que o movimento contraditório do capitalismo pudesse produzir a síntese que levaria ao socialismo. Ou seja, ao invés de tencionarmos as contradições capitalistas e empreendermos uma luta contra os ditames do sistema, por que simplesmente não abandoná-lo?  

 

  

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Filosofia a Distância Economia 1º Ano Filosofia - Geral
Mestrado: Mestrado em Geografia Humana (Universidade de São Paulo (USP))
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