RESUMO: Existe uma escritura poética?
Por: Samantha S.
10 de Abril de 2018

RESUMO: Existe uma escritura poética?

(Roland Barthes)

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No ensaio “Existe uma escritura poética”, de Roland Barthes, o teórico constrói uma comparação entre a linguagem poética clássica e a moderna, a fim de chegar a um consenso do que se poderia chamar de escritura poética. Ao definir a concepção clássica de poesia, Barthes lembra que a diferença entre prosa e poesia era apenas quantitativa, a poesia era a ornamentação da linguagem prosaica, um jogo de técnicas e equações decorativas. Barthes ainda enfatiza que, na poética clássica, o sentido proposto ao poema não ia além das palavras ali selecionadas e organizadas em um enunciado construído a rigor do belo. A poesia clássica não atenta contra a unidade de linguagem, ao contrário, molda-se a ela

Este conceito transformou-se quase que por completo na poesia moderna, na qual a palavra ganha potência para ir muito além da estrutura textual. O que os poetas modernos propõem é uma linguagem de natureza fechada que abarque ao mesmo tempo função e estrutura. A poesia ganha, então, uma qualidade irredutível e sem hereditariedade, é uma substância que carrega em si sua própria identidade. Enquanto que na linguagem clássica o pensamento já existe e se expressa nas formas, na linguagem moderna o pensamento se forma a partir e para além do texto. O tempo poético e as palavras na poesia moderna se constituem do “possível”, não mais do pré-concebido. O autor ainda ressalta que a diferença fundamental entre a poesia clássica e a moderna está na estrutura linguística, uma vez que a intenção sociológica permanece em ambas as concepções.

O que mais vale na poesia clássica são as relações que conduzem as palavras, não as palavras em si, é o alinhamento delas dentro do discurso clássico que garante a poeticidade e as significações do poema. Por outro lado, na poesia moderna, as palavras ganham densidade, as relações são esvaziadas, a gramática torna-se mera prosódia. Na linguagem moderna, as relações não são totalmente suprimidas, mas seu vazio virtual é um lugar reservado necessário para que se cumpra a expansão da palavra. Se a linguagem clássica se reduz a um contínuo persuasivo, a nova linguagem é o descontínuo, desfaz-se das hierarquias e dos sentidos privilegiados, a linguagem moderna está sempre aberta a possibilidades. Através desta “explosão” de autonomia, a palavra poética torna-se um objeto absoluto, elas se excluem de qualquer relação que as delimitem, e excluem de si até mesmo os homens, não há humanismo poético na modernidade, de acordo com Roland Barthes.

Destarte, Barthes conclui que não há como conciliar a violência significativa das palavras na linguagem moderna a uma ideia de escritura poética, pois a própria poesia moderna destrói qualquer alcance ético. A linguagem poética está muito além do próprio poeta. Entretanto, levando em consideração a maleabilidade o conceito de poesia ao longo das eras, é possível definir que a literatura se perfaz em estilos, a cada época cabe um conceito que melhor lhe convém. Nas palavras do próprio autor, “poesia é um clima”, “uma convenção de linguagem”, chegar a uma concepção absoluta e inviolável acerca da poesia é uma tarefa árdua demais e quiçá inútil, não se pode limitar os potenciais da literatura.

 

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